Renato Terra

Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

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Descrição de chapéu Estados Unidos Argentina

Jogo da seleção ou jogo do tigrinho

Façam as suas apostas sobre o que interessa mais aos jovens hoje em dia

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Imagine um monólogo de Joe Biden sobre as especificidades nas tabelas de emolumentos em cada cidade dos Estados Unidos. Imagine uma semana dedicada exclusivamente a atender ligações de telemarketing. Ou ainda imagine atravessar a via Dutra inteira por meio de cambalhotas.

Nenhuma das hipóteses levantadas acima parece ser mais tediosa do que assistir a um jogo inteiro da seleção brasileira de futebol masculino.

As hipóteses são muitas.

É óbvio que não temos mais Romários, Ronaldos, Rivaldos, Adrianos, Sócrates, Rivelinos, Garrinchas. O mais dolorido é que nem sequer temos Cafus.

Ilustração colorida de uma chuva de cartões amarelos com uma carinha de tigre estampada sobre um fundo verde
Ilustração de Débora Gonzales para coluna de Renato Terra de 5 de julho de 2024 - Débora Gonzales/Folhapress

Antes do jogo contra o Paraguai, os maiores jornais do país precisaram apresentar um dos atacantes titulares para o torcedor. "Quem é Savinho? Novidade no Brasil contra o Paraguai tem acerto com o City de Guardiola", dizia título do Globo. Ou seja, o torcedor precisaria de validação do City e do Guardiola para ser apresentado ao atacante da seleção.

É óbvio que não temos mais um padrão de jogo que encanta o mundo. O que é mais dolorido é que nem sequer temos um padrão. E aqui não vai uma deferência à cultura europeia, mas uma saudação ao padrão de jogo de uma Colômbia e de uma Argentina.

É óbvio que não temos mais jogadores profundamente identificados com times brasileiros. O que é mais dolorido é que essa identificação nem sequer existe em muitos casos.

A CBF tem um peso gigantesco na construção desse desinteresse pela seleção. Igualmente tedioso é lembrar as décadas de denúncias de corrupção, a sucessão de cartolas que parecem saídos de um episódio de "Vale o Escrito", além da completa falta de compreensão das potencialidades culturais, sociais e criativas da seleção brasileira.

Uma confederação tão alinhada com o espírito jovem que teve a ousadia de proibir um jogador de pintar o cabelo de rosa. Mas que não proibiu a escalação de um jogador denunciado por envolvimento com apostas.

É nesse cenário de desencanto que os sites de apostas se multiplicam, conferindo novos sentidos aos jogos.

Os memes sobre a ilha de Paquetá em festa a cada cartão amarelo ou pênalti perdido viralizam mais do que uma grande jogada da seleção.

As pupilas aceleradas estão mais interessadas no jogo do tigrinho do que nos jogos da seleção brasileira.

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